Resultado do 3º trimestre seria publicado na terça. Fala do presidente chinês na abertura do congresso do PCC sinaliza que nada muda na política de Covid Zero, e economia deve crescer menos
Porto Velho, RO - No seu discurso de abertura para o 20º Congresso do Partido Comunista Chinês (PCC) em Pequim, no último domingo, o presidente Xi Jinping deu poucos sinais de que as perspectivas econômicas para o país possam melhorar.
Xi, que busca a aprovação para um inédito terceiro mandato de cinco anos à frente do país, deixou claro que a política de Covid Zero, que impõe quarentenas rígidas para evitar a disseminação do vírus no país, vai continuar. E também que nada mudará na estratégia do país para conter a crise no mercado imobiliário.
O colapso de grandes incorporadoras e o impacto das quarentenas são os dois fatores que mais preocupam analistas do mercado quando traçam cenários para o crescimento da segunda maior economia do mundo.
A previsão é que o PIB chinês avance apenas 3,3% este ano – sem considerar o tombo da economia em 2020 no auge da Covid, será o pior desempenho em 40 anos, ou seja, desde as reformas e a abertura da economia introduzidas por Deng Xiaoping. A previsão do Banco Mundial é de que a economia da China vai crescer apenas 2,8% em 2022, metade da meta do PC chinês.
E, numa decisão que surpreendeu o mercado, a China adiou a divulgação do resultado do PIB do terceiro trimestre que sairia nesta terça-feira. O Escritório Nacional de Estatísticas atualizou seu calendário de divulgações com a informação de “adiado” para o PIB, sem esclarecer o motivo para a decisão nem dizer qual será a nova data para a publicação.
Adiar a divulgação abruptamente “não parece bom”, afirmou Jeremy Stevens, economista-chefe do Standard Bank.
- Mas não chega a surpreender, dada a importância dada pelo país ao congresso do PCC. Todas as atenções estão voltadas para isso – completou.
No segundo trimestre, o crescimento do país foi próximo de zero, e a expectativa do mercado era de que o PIB avançaria agora 3,3%.
Além do resultado do PIB, outros indicadores que seriam divulgados na terça-feira tiveram sua publicação adiada: a produção industrial mensal, os investimentos totais e do setor imobiliário, a produção de energia, as vendas do varejo e os preços de imóveis. Na semana passada, dados sobre o comércio exterior também foram adiados.
O adiamento da divulgação de estatísticas é raro na China. No último congresso do PCC, em 2017, o resultado do PIB foi divulgado durante o período do evento.
- O adiamento pode gerar preocupações se os resultados estão vindo fraco. Mas o crescimento abaixo do previsto este ano já está, de certa forma, no radar do mercado – afirma Jun Rong Yeap, estrategista do IG Asia Pte.
Logo após o discurso de Xi no domingo, ganhou mais destaque os sinais do presidente chinês de que poderia apoiar o setor de tecnologia do país, numa possível retaliação à decisão dos EUA de limitar importações de chips do país. Mas Shen Meng, diretor do banco de investimentos Chanson & Co em Pequim, alerta que, a curto prazo, o que vai afetar o humor dos mercados é a aparente decisão de manter a política de Covid Zero.
A política agressiva do governo de restringir a circulação de pessoas sempre que surgem casos de vírus levou ao aumento do desemprego entre os jovens e uma queda nos negócios e na confiança do consumidor. As vendas de imóveis caíram à medida que os compradores relutam em tomar empréstimos e as construtoras não entregam projetos conforme o programado.
No seu discurso, Xi elogiou a política de Covid Zero. Mas, ao delinear seus planos de longo prazo para o futuro, ele não voltou a mencionar o coronavírus. Ao falar sobre o mercado imobiliário, ele repetiu a linguagem adotada em declarações anteriores, apesar de a crise ter se acentuado desde seu último discurso que mencionou o setor.
Na avaliação de Bruce Pang, economista-chefe na Jons Lag Lasalle, o discurso sugere que não haverá qualquer tipo de relaxamento na rígida regulação do setor imobiliário adotada pelo governo para evitar endividamento excessivo das construtoras, o que levou as empresas a reduzirem fortemente seu ritmo de produção.
Se o PIB chinês de fato crescer só 3,3% este ano, o resultado ficará bem aquém da meta oficial do PCC, de 5,5%. O governo tem minimizado a importância da meta deste ano, insistindo que vai buscar o “melhor resultado possível”.
- A meta de crescimento deste ano foi efetivamente abandonada – afirma Wu Xianfeng, gestor de investimentos na Shenzhen Longteng Assets Management, acrescentando que a meta do próximo ano deve ficar em torno de 5%.
Fonte: O GLOBO