Sem água nem peixes, ribeirinhos enfrentam menor nível da história do rio Madeira, 25 centímetros

Sem água nem peixes, ribeirinhos enfrentam menor nível da história do rio Madeira, 25 centímetros

Seca no Rio Madeira é a maior já registrada. — Foto: TV Globo/Reprodução

Porto Velho, RO - À 1h30 da madrugada desta segunda-feira (23), o rio Madeira chegou a um nível nunca observado na história em Porto Velho: 25 centímetros. É uma marca que reflete na realidade das comunidades ribeirinhas, que sofrem com a falta de água e de peixes.

“De onde a gente tira o alimento para sobreviver é disso, da pesca. E não está tendo isso. Você desce aqui de canoa no rio desse aqui, você sobe e desce e não pega nada. Não tem”, relata o pescador André Pinto.

O pescador viu o rio desaparecer rapidamente, assim como os peixes. Locais onde antes os ribeirinhos passavam de barco para pescar, foram substituídos por bancos de areia. O horizonte onde antes era possível ver o nascer e o pôr do sol foi encoberto por fumaça de queimadas.

“Não vê o céu mais. Só essa fumaceira aqui. Até a respiração, pra gente, fica ruim. Dentro de casa, porque quando você vai abrir a janela, a fumaça entra pra dentro da casa. E você tá dentro de casa de noite, tá respirando aquela fumaça”, relata.

Na comunidade Brasileira, os moradores sofrem com a falta de água. Sem água nos poços e isolados das outras comunidades por causa da seca, eles dependem de carregamentos feitos pela Defesa Civil de Porto Velho. No entanto, segundo moradores, a quantidade não é suficiente para atender as necessidades de toda família.

“A Defesa Civil trouxe dia 9 de setembro e não veio mais. Passaram, se eu não me engano, dia 12 enchendo algumas caixas de água onde o caminhão conseguiu entrar, mas também já acabou essa água”, relata a moradora Elisa Regina.

“Se não comprar água, a gente fica sem beber água. Hoje mesmo se eu não tiver R$11 pra comprar um galão de água, hoje eu fico sem beber água”, relata a moradora.

Segundo Elisa, um galão de água de 20 litros em sua casa dura, em média, um dia e meio. Isso porque na residência moram cinco pessoas e a água acaba sendo utilizada para outras atividades domésticas.

“A gente bebe muita água, devido a estar muito quente, é um consumo de água muito rápido”, relata.

Segundo a Prefeitura de Porto Velho, mais de 15 mil fardos de água potável serão distribuídos para 433 famílias por três meses.

A Prefeitura aponta que o cronograma de distribuição está sendo realizado em três etapas para que todas as famílias possam receber as doações e que a água é suficiente para 30 dias.

Quem também sofre com a seca extrema são os animais. Com o rio seco, lagoas se formam, isolando os peixes, por exemplo, que acabam morrendo por falta de alimento e de oxigênio.

“Morre o bichinho. O jacaré, se não tiver peixe, morre. Às vezes a gente acha ele morto aí na praia”, relata André.

Na comunidade ribeirinha Maravilha o Igarapé secou, causando a morte de dezenas de peixes e dificultando o acesso à água para os moradores da região.

O mesmo local que Conceição e a família usavam para atividades diárias e momentos de diversão, como banhos, se tornou em um cenário devastador: um cemitério de peixes.

Consequências no corredor logístico

Através da água do Madeira se forma um corredor logístico. De acordo com o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), a hidrovia do rio é uma das mais importantes vias de transporte da região Norte: são mais de 1 mil km² de extensão navegável.

Por conta da seca, o principal porto de cargas de Porto Velho já registra redução de 60% no transporte de granéis sólidos, como milho, soja e fertilizantes.

Comboio de 30 barcaças navega o rio Madeira, em Porto Velho — Foto: Reprodução/Amaggi

Atualmente, a falta de produtos e insumos essenciais ainda não é sentida, mas existe a possibilidade de que os preços para os consumidores aumentem.

“A logística fica mais cara, o envio de carga demora mais, requer mais cuidado e resulta em maior consumo de combustível e insumos. É difícil prever o impacto nos custos e na economia de Rondônia e Amazonas, mas há possibilidade de que o consumidor final sinta essa alteração", relata Fernando César, presidente da Sociedade de Portos e Hidrovias do Estado de Rondônia (Soph).

Rondônia em chamas


A seca extrema acontece no mesmo período de recordes de queimadas. Nas primeiras duas semanas de setembro, a quantidade de focos de incêndio em Rondônia foi 3 vezes maior do que o total de registros feitos nos seis primeiros meses de 2024.

Fogo atinge Parque Guajará-Mirim — Foto: Prevfogo/Divulgação

O estado contabiliza 8.462 focos de incêndio entre janeiro e 19 de setembro: a maior quantidade em cinco anos, de acordo com o "Programa Queimadas", do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

Entre janeiro e 11 de setembro de 2024, mais de R$ 262 milhões em multas foram aplicadas pelo Batalhão da Polícia Ambiental em Rondônia. Além disso, foram realizadas 970 prisões, sendo 42 por queimadas ilegais.

Fonte: G1, RO
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